segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Maria

Esta Maria faz parte daquela geração de Marias que odeia chamar-se Maria. É vê-la de mão na cintura e de olhos franzidos a ralhar quando alguém tem a ousadia de utilizar o seu primeiro nome. Esta Maria prefere chamar-se Lena. Eu prefiro chamá-la mãe.

Quem nos conhece sabe que somos a fotocópia uma da outra. Herdei a sua pele morena, a estatura pequenina que insiste em ser motivo de piadas fáceis, mas acima de tudo, trago sempre comigo o seu sorriso fácil. A vida prega partidas e, por vezes, é mais difícil desenhar um sorriso. O lápis não está bem afiado ou a tinta da caneta teima em falhar acusando o seu uso, mas ela ensinou-me que há sempre uma maneira. Ou foi ao contrário. Não me lembro. Não interessa. 

Ela liga-me todos os dias. Fala pelos cotovelos e dá voltas e voltas para chegar ao propósito da chamada. Secretamente eu sei que é para ouvir a minha voz mais um bocadinho porque o Tejo que nos separa, às vezes, parece ser um oceano. É mesmo possível sentirmos saudades de alguém que está a meia-hora de distância? É.

É frágil. Às vezes tenho medo de parti-la quando tento ser uma canadiana. Adora enviar-me emoticons no chat no Facebook, quando sabe que me irrita. Não dispensa uma bica e o seu cigarro. Fiz o meu primeiro bolo de canela com ela e é a primeira pessoa a quem ligo se não conseguir interpretar uma receita. Gosta de dizer-me que sente saudades dos meus caracóis que enrolava nos dedos para eu adormecer quando era criança.

Sempre me deu conselhos quando mais precisei. Contudo, sempre me deixou escolher o meu caminho sem fazer perguntas, mas é mãe. Não quer que me magoe e não quer falhar o que diz ser a sua missão - fazer-me feliz. Não estás.

Há 27 anos atrás tive a sorte de abrir os meus grandes olhos castanhos e apaixonar-me para sempre por esta mulher que todos os dias começa uma conversa com "Olá, meu amor!".

O emplastro também terá direito a um post.