sábado, 4 de outubro de 2014

Rita

Esta miúda partiu-me o coração uma vez. Disse-me que ia mudar de cidade e o meu mundo desabou. Ela foi a minha primeira amiga de sempre. Sentou-se ao meu lado no primeiro dia da escola primária e foi como se naquele momento eu soubesse que íamos pertencer uma à outra para sempre. 

É verdade que o "para sempre" teve momentos de interregno que vão ser sempre lembrados com cartas que trocávamos sobre o que cada uma fazia no seu cantinho - eu no Montijo, ela em Lisboa. E sim, eu disse cartas, o que hoje quase parece ridículo.

Perdi a conta às vezes que ia a casa dela brincar, ver o Aladino e, invariavelmente, jantar. Quando a comida não agradava, não havia cá problemas de pedir um menu diferente, porque a família Taborda também era um bocadinho minha.

Contudo, o mais giro de tudo era dormir na casa da Rita. Ficávamos acordadas até tarde e terminávamos cada frase com "Agora é que é! Boa noite!" para no momento a seguir desatarmos a rir e continuar a brincadeira do "vamos fingir que vamos dormir, mas vamos falar até de madrugada". 

As primeiras paixonetas preenchiam os nossos cadernos com corações gigantes onde se lia ASF. Os primeiros segredinhos e mentirinhas foram com ela. Nunca me vou esquecer do seu mau feitio e a maneira como colocava a mão sempre que era chamada ao quadro. Brincar com balões de água no verão na praceta e comer bolinhos quentinhos no inverno na sua casa eram as nossas coisas preferidas. Passávamos horas nas escadas do centro comercial a comer o que, na altura, eram os melhores croissants do Montijo. 

Hoje em dia já me juntei à Rita nesta coisa de ser independente e moro em Lisboa e é como se nada tivesse mudado. Adoro jantar na casa dela. O facto de ela preferir sempre a sobremesa ao prato principal faz-me rir. A mania das limpezas é algo que nunca vou herdar dela e adoro que o nosso guarda-roupa seja quase todo igual. Ir às compras e comer porcarias é um dos nossos programas de eleição e posso sempre contar com a sua opinião honesta em tudo. Em tudo mesmo.

A definição de amigo vai mudando ao longo do tempo. Tenho aprendido isso, mas a verdade é que a miúda que se sentou ao meu lado naquela manhã de setembro com uma franja à Beatriz Costa continua a ser aquilo que preciso - lealdade, honestidade,um ombro para chorar quando é preciso e um sorriso genuíno que contagia qualquer pessoa. Nesta altura da minha vida as palavras nunca serão suficientes para agradecer a tua disponibilidade. 

Terminamos sempre as nossas conversas no Facebook com um ;), por isso, Badó aqui fica - ;) e já agora deixa-me acrescentar um <3.

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